#3 | é necessário sair da ilha para ver a ilha
não nos vemos se não saímos de nós. - josé saramago
eu tinha planejado trazer um tema totalmente diferente pra essa newsletter.
ia falar sobre tendências e o porquê de parecer que elas vêm e vão cada vez mais rápido.
aí eu comecei a achar que precisava me aprofundar mais e mais, porque queria falar algo diferente do que todo mundo já está falando. só que chegou num ponto que acho que ninguém teria paciência pra ler de tão denso pra um único e-mail.
deixei o texto decantando. fui lidar com as outras coisas da vida e tive dias que são menos frequentes do que eu gostaria: cercada de pessoas que amo, conversando no offline, vivendo a vida do lado de fora - de casa e da minha cabeça.
e quando fiquei sozinha novamente, num fim de tarde de domingo, percebi que minha cabeça já tava prontinha pra se encher de pensamentos que giram em torno de tudo o que tenho que fazer + tudo o que gostaria de fazer + tudo o que eu não vou conseguir fazer. eu conheço bem essa equação que cresce de forma exponencial rumo a uma espiral de ansiedade na qual passo mais tempo do que gostaria e de onde é difícil sair.
antes de sair pensando em tudo o que preciso fazer ao longo da semana e me assustar com o volume de coisas e deixar minha mente contar mentiras que me fazem me sentir incapaz, eu decidi tentar me apegar àquela sensação boa que eu estava sentindo após passar um tempo com pessoas que amo e fazendo coisas que me conectam no agora e me deixam feliz.
recorri à escrita, que é minha maior companheira pra quase tudo nessa vida, pra registrar o que eu estava sentindo e dialogar com a minha mente de uma forma gentil, sem as cobranças de uma semana que ainda nem começou.
e é engraçado como às vezes a gente se esquece do óbvio. eu sei que me conectar com pessoas e com o mundo do lado de fora da minha cabeça me fazem bem e ajudam a me manter no momento presente. eu sei que fazer uma coisa de cada vez é melhor do que querer fazer tudo ao mesmo tempo e não conseguir fazer nada. eu sei que andar devagar também me põe em movimento e que na maioria das vezes a pressa me paralisa. e eu sei que parar e respirar bem fundo enquanto dialogo com os meus pensamentos é uma ferramenta muito valiosa pra lidar com a minha ansiedade.
são coisas bem simples, falando assim, né? na prática não é tanto. porque às vezes eu passo tanto tempo dentro da minha cabeça, elevando os pensamentos e ideias a níveis tão complexos que o simples parece estar muito distante.
voltando ao início desse texto-desabafo…
toda vez que eu decido escrever sobre algo, a primeira coisa que eu faço é buscar referências. primeiramente porque, enquanto profissional de comunicação, eu me importo muito com a confiabilidade das informações que eu estou transmitindo, não importa se só duas pessoas estiverem lendo.
até aí tudo bem. só que o segundo motivo pelo qual faço isso, e talvez o mais forte, é porque nunca acho que sei o suficiente. e durante a pesquisa, de certa forma, eu engano o meu cérebro, porque eu tô me preparando praquela escrita, ainda que não esteja escrevendo de fato.
o ponto é que, chega uma hora que eu simplesmente acho que não vou conseguir criar uma boa linha de raciocínio que não seja igual ao que todo mundo já está falando. mas será que realmente todo mundo está falando sobre as coisas que eu quero falar? ou será que é só a minha lente que está com um superzoom num determinado objeto, me levando pro centro de uma bolha formada por um monte de gente com afinidades e interesses semelhantes?
será que se eu trocar uma ideia com uma amiga que trabalha em uma área totalmente diferente da minha, ela também vai estar cansada de ler e ouvir sobre os mesmos assuntos que eu?
às vezes, pode ser que, sim, muita gente esteja falando a mesma coisa. mas isso só mostra que, talvez, essas pessoas talvez tenham as mesmas referências. e é aí que vários discursos são repetidos tantas e tantas vezes, até que acabam se esvaziando.
também fiquei refletindo sobre um outro ponto que é: se você está sempre buscando informação nos mesmo lugares e tentando mostrar pras pessoas da sua área que você domina determinado assunto, com quem você está se comunicando? com pessoas que poderão ser positivamente impactadas por aquela mensagem, ou com uma bolha que você deseja impressionar para provar que merece pertencer àquele espaço?
bom, pra mim a primeira opção parece fazer mais sentido, embora seja a segunda que me envolve sempre que eu me deixo levar pela comparação e me esqueço dos motivos pelos quais decidi me dedicar à comunicação.
no fim das contas, o que tudo isso tem a ver?
quando percebo que as experiências externas me conectam mais com o momento presente e com a minha essência, também entendo que às vezes já temos o conhecimento que precisamos e não temos que buscar tantas referências pra nos validar.
além disso, se você está sempre olhando para os mesmos lugares, suas referências se tornam limitadas. e se esses lugares também são o foco de muitas outras pessoas, no fim das contas, você só vai entrar num grande eco onde pessoas e mais pessoas se repetem.
isso quer dizer que eu tenho que ser A DIFERENTONA que sempre vai falar coisas que ninguém mais pensou? não, até porque, com o acesso à informação que quase todo mundo tem hoje, é difícil encontrar algum tópico que seja, de fato, inédito.
acaba que a melhor opção é dar um olhar diferente àquele assunto. um viés que só você pode seguir porque só você tem suas vivências e bagagens. e essa é a única coisa que nós temos que ninguém mais vai ter igual.
e se você teve paciência pra me ler até agora, é aqui que o grande encontro desse texto acontece:
josé saramago meets as vozes da minha cabeça
é no livro O conto da ilha desconhecida que o autor português escreveu que “é necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”.
e é justamente esse o ponto que me conduziu ao longo desse texto. seja na comunicação ou em qualquer outra área da vida, quanto mais imersos na nossa própria cabeça, menor a nossa percepção de nós mesmos. e quanto mais olhamos para os mesmos lugares, mas parece que aquele recorte é tudo que existe, quando na verdade é só uma pequena ilha em meio à imensidão do mundo.
um dos recursos que minha psicóloga (dentro da abordagem da terapia cognitivo-comportamental) me ensinou para me ajudar nos momentos de crise de ansiedade, se chama PARAR:
Parar
Atentar
Respirar
Ampliar
Responder
basicamente, significa que, em um momente de crise, você precisa se afastar da confusão mental para se acalmar e se permitir analisar tudo aquilo de um ponto de vista externo. isso ajuda a responder à situação com mais racionalidade, sem se deixar levar por pensamentos disfuncionais.
e eu sei que parece que todo esse texto é um grade emaranhado de obviedades, mas na prática não é tão simples assim.
às vezes a gente tem que olhar ao redor e buscar outros estímulos pra voltar pra dentro de nós e enxergar as coisas com mais clareza.
bagunça organizada
as coisas mais legais que vi na internet nos últimos dias, com uma pitada de aleatoriedade
o wondermind é um ecossistema que busca quebrar estigmas sobre saúde mental, unindo o conhecimento de especialistas e as experiências de sua comunidade para a construção de conteúdos e ferramentas que nos ajudem a ter uma rotina mais funcional. uma das fundadoras é simplesmente selena gomez 💅
completamente obcecada pelos vídeos do chris hall imitando backing vocals de cantoras pop junto com a sua irmã, lizzie hall. todos são incríveis, mas talvez esse seja o meu preferido até agora.
outra gente obsessão do momento é a reneé rapp, que fez a regina george na nova versão de meninas malvadas. a gatinha faz tudo e além de atriz, também é cantora. tummy hurts é o meu hiperfoco do momento e não sai do meu repeat. ps: ela também faz a série A Vida Sexual das Universitárias, que tá disponível no Max, bem vibes série de garoutas, amo amo.
recentemente li o guia de comunicação interna do The 37signals e fiquei simplesmente 🤯🤯🤯 sério, me fez refletir muito sobre a forma como me comunico com as pessoas e como posso fazer isso de forma mais assertiva.
tudo que envolve a gravidez da vanessa hudgens tem me trazido grandes doses de serotonina, eu estou muito babyvizada 🥰
por hoje é só isso tudo, qualquer dia eu tô de volta
muito obrigada pelo seu tempo ❤️
eu valorizo muito o meu tempo e o de qualquer pessoa. então, obrigada por ter cedido alguns minutos do seu dia pra ler o que eu tenho a dizer.
fica à vontade pra compartilhar suas reflexões e sugestões respondendo a este e-mail.
um beijo e até mais!
karol discaciati.